O Homem Sem Um Nome é um filme produzido pela companhia de dança Perversos Polimorfos.
O trabalho, que originalmente consistia na criação de uma performance de dança solo, parte da pesquisa de Ricardo Gali, foi transposto para o cinema por conta das limitações impostas às artes do palco devido à Covid-19.
Compus e gravei a trilha em confinamento, no 2o semestre de 2020.
O trabalho de criação do filme, desde seu roteiro à abordagem de cinematografia, partiu das questões disparadoras do projeto inicial de dança solo, propostas por Ricardo Gali em sua pesquisa pessoal:
“É possível esquecer-se de si?”
“Ao esquecer-se de si, é possível libertar o movimento?
“Como atuam os mecanismo humanos de transformação de uma identidade?”
“Esquecer-se de si é uma possibilidade para um novo começo que se deseja?”
“Como pode ser construída a ideia de uma coreografia documental com uma temática ficcional?”
“Inversamente, como pode ser construída uma coreografia ficcional partindo de uma temática documental?”
Saiu o clipe da canção “Monolito”, do álbum VIA de Ga Setubal, que tive o prazer de produzir ao lado do Charles Tixier. Nesta faixa participei também fazendo o solo de guitarra.
O vídeo é do Deco Farkas e foi produzido durante o confinamento, em meados de 2020.
Fiz a produção musical, ao lado do Pipo Pegoraro, da versão da Xênia França para o disco “REPLAY-Acabou Chorare”. O projeto, da gravadora Som Livre é uma releitura de vários artistas contemporâneos de cada faixa do álbum clássico dos Novos Baianos, Acabou Chorare. A nós foi encomendada a faixa “A Menina Dança”, e nossa versão ficou assim:
Meu parceiro e grande amigo Ga Setubal começa a lançar seu primeiro disco solo. Vai se chamar VIA. Charles Tixier e eu produzimos esse trabalho, em que tentamos sobrepor camadas de linguagens orgânicas e eletrônicas às canções do Ga.
Aqui estão os primeiros singles, que estão sendo lançados como clipes.
O Timeline Trio começa a lançar seu primeiro disco, que tive o prazer de assinar como produtor musical.
Abaixo, algumas faixas deste trabalho:
No sábado dia 31/8 e no domingo dia 1/9 acontece o Mastercard Jazz Festival, em São Paulo.
Tenho a honra de ser um dos representantes brasileiros desse line-up que conta com vários heróis musicais da minha geração.
Vou tocar algumas músicas do meu disco e depois farei, junto com minha querida amiga e parceira Xênia França, alguns outros sons (incluindo do disco dela, que produzi ao lado do Pipo Pegoraro) com a minha banda e um pouco da sonoridade que desenvolvemos em O Corpo de Dentro.
Estou animado com esse show e todos ficam então convidados para estar no Auditório Ibirapuera (área externa) no próximo sábdado, 31, às 17:30. Até lá!
Assinei direção musical do show Grandes Temas- Jean William em Concerto. O convite se deu através do diretor Guilherme Leme, com quem tive o privilégio de trabalhar pela primeira vez.
Também foi ocasião para conhecer esse artista especial que é Jean, assim como escrever arranjos para uma formação mista de cordas, sopros e piano, que eu adoro.
Uma parte do show, que ainda teve participação da Fabina Cozza, pode ser visto aqui, por conta da transmissão feita pelo site Catraca Livre.
Fui convidado para elaborar uma intervenção sonora “site specific” para a instalação “Mares da Lua” dos artistas Angela Detânico e Rafael Lain. O trabalho faz parte da exposição “Metereológica”, em cartaz no Espaço Cultural Porto Seguro, São Paulo.
Acabei pensando numa performance solo, e muito diferente do meu trabalho autoral já publicado.
O ponto de partida para mim foi definir que a instalação seria a protagonista, e minha música tentaria somar ou amplificar sentidos, mas não substituir o que os artistas haviam pensado como algo completo em si.
Isso tudo acabou me fazendo criar algo muito diferente do que eu faria em qualquer outra situação, e muito diferente do meu trabalho autoral já publicado. Por isso mesmo, foi muito gratificante ter feito esse projeto.
Copio abaixo uma carta que escrevi para os curadores do espaço afim de deixá-los a par do “work in progress”. As fotos incluídas são de Felipe do Amaral.
HARMONICOS E ESFERAS:
Elaborar uma intervenção musical que dialogue conceitualmente com o trabalho da dupla, e fisicamente com a instalação Mares da Lua, me fez considerar as relações entre som e espaço.
A música é tradicionalmente percebida no tempo, através de movimentos harmônicos que carregam um senso de finalidade, de expectativas sucessivas, de relações entre o som que soa agora e aquele que vem a seguir.
A maneira como os artistas resignificam plasticamente o alfabeto me fez querer explorar musicalmente a maneira como organizamos a apreensão do som.
Reimaginar a sintaxe dos sons, assim como os artistas reimaginam nossas formas de codificação do mundo.
John Cage se dizia satisfeito com a ação do som que não carrega nenhum sentido, nenhuma expressão humana ou desejo; apenas é.
Eu gostaria que minha intervenção recobrasse o interesse minimalista em ir aquém da música, e investigar os fatos básicos de um som. Despir o som da pressão por sentido que parece sempre acompanhar sempre a apreensão humana das coisas, e apenas deixar que ele ressoe e então se esvaia como fumaça.
Ou que forme novos vínculos que suspendam a organização habitual, ordenada, sequencial.
Fragmentos que se repetem de novo e de novo enquanto se transfiguram lentamente como nuvens ou ondas.
Sobreposições e derivações sonoras que suspendem o senso ordinário de passagem do tempo e pouco a pouco transformam a percepção do espaço e dos sussurros de luz que compõe a obra.
Vou usar guitarras, drones sintetizados e texturas granulares. Procurar uma música que pouco a pouco se torna o ambiente.
Depois de muita espera, finalmente temos algumas cópias do LP “O Corpo de Dentro” disponíveis no Brasil.
O disco produzido em Tokyo pela Disk Union/Suburbia Records
São apenas 100 unidades no Brasil, vendidas a preço de custo (produção/transporte/importação do Japão).
Pode ser adquirido aqui mesmo no site.
Com muita honra, apresento o show O Corpo de Dentro no Festival SESC JAZZ, que traz ao público da capital e do interior de São Paulo dezenas de artistas espetaculares de diversas nacionalidades.
Aqui embaixo fotos da primeira apresentação, no SESC Pompeia, lugar que fez parte da minha formação musical e que sempre amei, sobretudo por conta da arquitetura da Lina Bo Bardi. Foi emocionante.
Fotos de Julay Barretti:
Estaremos no Sesc Araraquara no dia 31/8 e no Sesc Sorocaba no dia 1/9.
A banda é formada pelos excepcionais:
Josué Dos Santos – sax soprano, flauta
Raphael Ferreira – sax tenor
Zafe Costa – sax barítono, clarone
Bruno Belasco- trompete, flugelhorn
Maycon Mesquita – trompete, flugelhorn
Jaziel Gomes – trombone baixo
Leandro Cabral – piano
Bruno Migotto – baixo acústico
Vítor Cabral – bateria
Gabi Guedes – percussão
Iuri Passos – percussão
Ícaro Sá – percussão
Assino a trilha sonora incidental desse filme lindo da Monique Gardenberg. Escrever música pra cinema é bom demais.
A direção musical é de Zeca Baleiro e o elenco inclui: Lee Taylor, Julio Andrade, Julia Konrad, Jaloo, Erasmo Carlos, Seu Jorge, Hermila Guedes e Malu Galli.
Veja abaixo duas críticas sobre o filme:
GLOBO.COM :
É difícil acreditar que o cantor que há duas semanas fez o público carioca dançar, ao apresentar o show da turnê Mestiço pela primeira vez na cidade do Rio de Janeiro (RJ), seja também o ator que está sendo visto desde quinta-feira, 31 de maio, na pele da drag queen cantora Imã, uma das personagens da galeria afetuosa de loosers de Paraíso perdido, primeiro filme dirigido por Monique Gardenberg desde Ó paí ó (2007), exibido há onze anos.
Mas, sim, trata-se da mesma pessoa. No caso, de Jaime Melo, cantor, compositor e (a partir de agora) ator nascido há quase 31 anos na cidade paraense de Castanhal (PA). Com o nome artístico de Jaloo, este cantor que emergiu nos presentes anos 2010 na cena tecnobrega de Belém (PA) brilha como ator nesse longa-metragem que segue o tom melodramático da canção popular de cepa mais sentimental. Em bom português, da música caracterizada como brega no dicionário da elite cultural do Brasil.
Em cena, Jaloo também canta, pois Imã é uma das atrações musicais da boate Paraíso perdido, cenário que concentra a maior parte da ações deste filme que também traz no elenco outros cantores que se saem bem no papel de atores. São os casos de Seu Jorge e de Erasmo Carlos, que estava afastado do cinema desde 1984.
A canção popular romântica do Brasil dos anos 1970 e 1980 é, de certa forma, a personagem central deste filme, conduzindo a trama ambientada nos dias de hoje. Fundamental para criar a empatia do espectador com a história, a trilha sonora foi construída sob direção musical de Zeca Baleiro, cantor e compositor maranhense que sempre direcionou olhar afetivo para a produção autoral de cantores e compositores populares como Odair José, Reginaldo Rossi (1944 – 2013) e Márcio Greyck.
Do repertório de Greyck, aliás, Jaloo – ou melhor, Imã – dá voz à balada Impossível acreditar que perdi você (Márcio Greyck e Cobel, 1971), clássico da sofrência que, a rigor, é a mesma sofrência que reverbera na recente canção Say goodbye, lançada por Jaloo em março como primeiro aperitivo do segundo álbum do artista, ft., previsto para o segundo semestre deste ano de 2018.
Ao longo do filme, cuja trilha incidental foi orquestrada pelo compositor e músico Lourenço Rebetez, outras (belas) canções do mesmo estilo popular são interpretadas no palco da boate Paraíso perdido pelos atores do longa-metragem. Um exemplo é o maior sucesso da carreira do cantor pernambucano Augusto César, Escalada (Jorge Silva e Carlos Sérgio, 1987), que ganha a voz de Júlio Andrade, ator excepcional que encarna Angelo, filho do patriarca José, vivido por Erasmo Carlos. Merece, a propósito, menção honrosa a cena em que Angelo dubla a gravação original de Minha coisas (Rossini Pinto, 1970), canção celebrizada na voz do goiano Odair José, ídolo da canção popular brasileira da década de 1970. Todos amam (e todos sofrem) na trama.
Cerca de 20 músicas do gênero aparecem ao longo do filme, muitas na voz de Jaloo que, na pele da fictícia Imã, mostra uma segurança vocal que ainda não havia sobressaído nas gravações feitas pelo artista na vida real. É Jaloo quem canta De que vale ter tudo na vida (José Augusto, Miguel Plopschi, Marcelo, Salim) – canção que alavancou em 1973 a carreira do cantor carioca José Augusto – e Não diga nada (Leonardo Sullivan, 1981), hit na voz do cantor Gilliard. Jaloo segue trilha que desemboca em Amor marginal (2012), música do cantor e compositor Johnny Hooker, seguidor das tradições sentimentais da canção popular. Com a voz aveludada de timbre acariciante, Seu Jorge também brilha, revivendo Doce pecado, música do cantor e compositor Fernando Mendes lançada na voz de Reginaldo Rossi, ícone desse gênero de canção celebrado no filme.
Um dos méritos da trilha sonora – e da direção musical de Zeca Baleiro – é ter ido além dos maiores clássicos do cancioneiro sentimental brasileiro. Há evidentemente alguns standards, como o bolero Tortura de amor (Waldick Soriano, 1962). Mas há também músicas menos ouvidas e regravadas. Voz dominante no roteiro musical, Jaloo canta uma delas, Jamais estive tão segura de mim mesma, música da lavra popular de Raul Seixas (1945 – 1989) lançada na voz da cantora Núbia Lafayette (1937 – 2007).
Outra – Não creio em mais nada (Totó, 1970), sucesso do cantor capixaba Paulo Sérgio (1944 – 1980) – é interpretada por Júlio Andrade. E há, ainda, a ousadia estilística de incluir na trilha sonora um sucesso de Roberto Carlos composto com o parceiro Erasmo, 120…150…200 Km por hora, ouvido na gravação original feita pelo Rei da sofrência para álbum lançado em 1970, mas também cantarolada por personagens como o gentil José, vivido pelo gigante Erasmo.
Com essa seleção musical e esse elenco, o filme Paraíso perdido ganha o espectador porque, mesmo minimizada na bibliografia musical brasileira, a antiga canção popula romântica nacional ecoa na memória afetiva do país, atravessando modismos e gerações.
FOLHA DE SÃO PAULO (Thales de Menezes)
Ao escolher como cenário uma boate de música brega, “Paraíso Perdido” faz uma delicada homenagem a um gênero musical que resiste ao tempo. Talvez porque exprima valores humanos universais em suas letras que pendem ao desencanto amoroso.
Em uma canção brega, o narrador sobrevive às adversidades. Acontece o mesmo com os personagens do sensível filme de Monique Gardenberg.
Paraíso Perdido é o nome da casa noturna de administração familiar, comandada pelo cantor veterano José, tipo sob medida para um Erasmo Carlos que leva à tela o charme rude que lhe valeu o apelido de Gigante Gentil. Outro cantor no elenco é Seu Jorge, no papel de Teylor.
Mas quem surpreende mesmo na passagem da música para a atuação é Jaloo, que interpreta Ímã, neto de José. Ele é um cantor crossdresser, o caçula paparicado do clã musical. Alguns de seus números são incríveis, e Jaloo representa com desenvoltura um papel amplo e complexo na trama.
Como em todos os filmes de sua carreira, Julio Andrade é o grande ator em cena. Como Angelo, filho de José e tio de Ímã, ele é o motor do filme. Ele tem uma filha, Celeste, interpretada por Julia Konrad, também cantora na boate.
Mais uma vez, Julio Andrade compõe um personagem intenso, que convence e cativa qualquer espectador. E canta muito. Dá até vontade de comprar discos de Angelo, caso esses existissem.
O enredo se desenrola à espera do retorno de Eva (Hermila Guedes), a mãe de Ímã, prestes a deixar a prisão depois de cumprir muitos anos de pena por assassinato. Na cadeia, mantém uma relação com Milene (Marjorie Estiano), que também irá interagir com o núcleo familiar.
Além dos ótimos números musicais no palco do Paraíso Perdido e do elenco afiado, um acerto do filme é criar um personagem que vai conhecendo aos poucos os membros da família e descobrindo seus segredos. Ele conduzirá o espectador durante a sessão.
Lee Taylor vive o policial Odair, que fortuitamente socorre Ímã de um ataque de homofóbicos na calçada da boate. Preocupado com essas agressões, que são corriqueiras, José acaba contratando Odair para um bico como segurança do lugar. E ele participará bastante dos desdobramentos da história com a chegada de Eva.
“Paraíso Perdido” é encantador, o longa mais atraente da filmografia de Monique Gardenberg, que inclui “Jenipapo” (1995), “Benjamim” (2004) e “Ó Paí, Ó” (2007).
Seu roteiro se encaixa com as músicas escolhidas por ela nesse universo musical tão popular, mas não exatamente muito famosas. É um lado B do brega, que funciona muito bem na narrativa.
O único complicador na trama é um excesso de personagens. Na parte final, o roteiro tenta enredar todos eles numa mesma história, e as conexões ficam tênues, até um pouco confusas. Mas isso não chega a afetar a agradável experiência musical e cinematográfica do filme.
Tive o prazer e a responsabilidade de fazer a direção musical deste projeto que junta o repertório de rock com o universo sinfônico.
Contamos com uma banda incrível formada por Webster Santos, Gustavo Barros, Tiago Costa, Bosco Fonseca, Maguinho Alcantara e Orlando Bolão + a Orquestra Sinfônica Juvenil de Heliópolis e as participações especiais de Samuel Rosa, Rodrigo Suricato e Lari Basilio.
Cada número ainda contava com um víde0-arte criado especialmente para os arranjos, que foram escritos por Rodrigo Morte, Nelson Ayres, Jaques Morelembaum, Conrado Goys, Tiago Costa e por mim.
Algumas fotos do show no parque Ibirapuera no dia 27 de Maio de 2018:
Nova trilha sonora para o trabalho “Atreve-te”
Estreia no Sesc Pinheiros. 22, 23, 28 e 29 de novembro às 20h30.
Uma performance de dança que parte da pergunta: “Qual o corpo que me resta para dançar?”.
Esse trabalho foi desenvolvido em um processo de estudos sob a direção de Ricardo Gali em parceria com as bailarinas Aline Brasil, Daniela Moraes e Layla Bucaretchi.
A pesquisa teve como base o rock, filmes de Alejandro Jodorowsky e David Lynch.
A dramaturgia-coreográfica parte de um deserto que parece o fim que não foi visto. O lugar de fazer o outro atrever-se.
Sinopse
Rock é pedra. Pedra é algo que dura e persiste ao vento. Um corpo que treme sem sincronia, apenas energia necessária para sobreviver.
Um estado de prontidão para o eterno recomeço.
Corpo em luta. ciclo de desistência, resistência, perseverar, reinventar. Explosão e queda.
Fala o que não existe. canta o que não existe. pede pelos que se foram. fala sobre o que está presente, sobre os caminhos que queremos ir, como Alice no país das maravilhas.
Resistir num momento árido sob um desmonte cultural.
Não sei se dou a cara a tapa e acordo do meu sonho medíocre?
Macacos bonobos dançam e são bissexuais. A ironia de estar ali, quando tudo se desmorona.
Identifica-se ou recria-se.
Ficha Técnica
Concepção, direção e figurino: Ricardo Gali
Performers: Aline Brasil, Daniela Moraes e Layla Bucaretchi
Design de luz: Aline Santini
Design de som: Lourenço Rebetez
Assistente de direção: Gabriela Rios
Coordenação de produção: José Renato Fonseca – Cais Produção Cultural
Tive o prazer e a responsabilidade de falar um pouco sobre o John Coltrane a convite do NEXO JORNAL.
O mote da entrevista foi “como começar a ouvir todo o jazz de John Coltrane”.
Também participou do podcast meu querido amigo e grande saxofonista Cássio Ferreira.
Clique na imagem para acessar o programa:
Depois da edição japonesa, acaba de ficar pronta a nova tiragem da versão brasileira do CD “O Corpo de Dentro”.
Esta é uma edição em digipack, com encarte produzido artesanalmente pelo estúdio Riso Tropical.
É possível encomendar o CD aqui no site, na aba “Loja”.
Está no ar “Pra que me chamas”, primeiro single do disco da cantora Xenia.
A produção musical do álbum é de Lourenço Rebetez e Pipo Pegoraro.
Nesta faixa exploramos sonoridades “diaspóricas”, dos tambores sagrados da Santeria Cubana e do Candomblé Brasileiro, passando pela percussão baiana de rua e pelos beats eletrônicos e synths que remetem ao hip hop e ao pop.
A música é de Lucas Cirillo e Xenia França.
https://www.youtube.com/watch?v=e_4UQ0vhl5g&t=205s
O show “O Corpo de Dentro” foi uma das atrações do festival Jazz e Blues, organizado pelo SESC-SP em agosto.
Foi um enorme prazer tocar para um público tão caloroso em três cidades maravilhosas. S. José do Rio Preto, Jundiaí e Ribeirão Preto.
Abaixo algumas fotos do espetáculo.
Este mês o álbum “O Corpo de Dentro” está sendo lançado em CD e LP pela gravadora japonesa Disk Union.
Estou muito contente com o carinho do público e dos agentes culturais japoneses, que valorizam tanto esse trabalho.
A edição de março da revista japonesa LATINA destacou o álbum “O Corpo de Dentro” numa extraordinária matéria que inclui uma entrevista que copio (em português) abaixo:
ENTREVISTA PARA REVISTA LATINA (JAPÃO)
by Takeshi Miyamoto
Q1.
Poderia contar a história do seu primeiro encontro com a música ?
E como você estudou a música ?
LR: Me encantei com a música muito cedo. O primeiro contato foi através dos discos dos meus pais. Ouvia muitos artistas brasileiro. Milton Nascimento é o que mais associo com minha mãe. Também Caetano Veloso, Mutantes e Rita Lee. Com meu pai lembro de ouvir Jorge Ben e rock americano, Beatles, Led Zeppelin.
Passei a frequentar uma escola de música onde tomava aulas de violão por volta dos 11, 12 anos.
Mais adolescente passei por uma fase de me interessar bastante por hip hop, mais ou menos ao mesmo tempo em que me começava a me aprofundar na improvisação jazzística e no universo do violão brasileiro, Baden Powell, Raphael Rabello etc.
Em algum momento desse período ouvi Moacir Santos pela primeira vez. Eu já era fascinado por arranjo, por arranjar, mesmo antes de saber como isso se chamava. Mas ali se abriu um universo totalmente novo. Não sou religioso mas acho a música de Moacir divina, e sinto isso desde a primeira vez que a escutei.
Nessa época ainda tomava aulas, mas já me percebia numa busca musical por conta própria.
Pouco depois me mudei pra Boston para cursar a Berklee College of Music.
Q1a.
Por que razão você estudou na Berklee College of Music ?
LR: Fui para Boston porque naquele momento senti necessidade de imersão nos estudos. E acho que, mesmo sendo de uma geração que cresceu com uma total disponibilidade de discos, material didático, partituras etc.. nada substitui o convívio como ferramenta de ensino.
Na Berklee tive a oportunidade de viver esse caldeirão, de conhecer músicos talentosíssimos de todas as partes do mundo e até por isso, de compreender melhor o sentido de ser um músico brasileiro.
Q2.
Em um lado, este álbum é a música do Brasil como é influenciado forte pelas candomblé e música do Moacir Santos. Mas em outro lado, este álbum é a música muito conectada com a música do mundo atual. Este álbum é a música da mistura das Hip Hop e Jazz e é um tipo de large-ensemble como a Maria Schneider. Todo mistura neste álbum.
Você foi consciente destes pontes ?
Poderia contar como surgiu este álbum ?
LR: Acho que essas pontes surgiram naturalmente por conta dos meus interesses musicais. Quer dizer, não foi um “conceito” pensado no papel e sim o resultado natural de uma trajetória pessoal. Por outro lado fui sim consciente dessas pontes ao longo do processo.
Em primeiro lugar optei por convidar o Arto Lindsay para produzir ao invés de pensar em alguém mais ligado ao universo do jazz ou da música instrumental brasileira.
Isso já foi deliberado por conta da vontade que tinha desde o início de gravar minhas composições “jazzísticas” de uma maneira um pouco mais ousada.
Quando expliquei a Arto o que imaginava para o disco ele entendeu de imediato, justamente por ser alguém que, como eu, ama Wayne Shorer, Miles Davis e Gil Evans, mas também Timbalada e Timbaland.
Adorávamos conversar sobre o disco Voodoo do D’angelo, e como podíamos misturar um pouco daquela sonoridade com os atabaques. Falávamos sobre a genialidade do Márcio Vitor, percussionista líder do Psirico e do Isaiah Sharkey, guitarrista gospel americano. Conversar com alguém que tinha o mesmo entusiasmo que eu em relação a coisas tão variadas me deu mais confiança de que a visão que eu tinha pra esse álbum era possível e interessante.
Q3.
Você estudou com o Leitores Leite também, não foi?
Ele é conhecido por ser influenciado pelas candomblé e música do Moacir Santos.
Poderia nos ensinar o que você aprendeu com ele ?
LR: Fui procurá-lo depois de ver um show da Rumpilezz do qual saí maravilhado. Minha sensação era de que ali estavam respostas pra várias perguntas que eu vinha amadurecendo na minha cabeça.
Logo depois eles lançaram seu primeiro disco e eu imediatamente fui tirando tudo o que podia de ouvido. Bati na porta dele com meu caderno com todas as transcrições do disco e um milhão de perguntas. Ele me disse: “ninguém nunca me procurou pra querer saber sobre minha maneira de compor, mas se você está interessado, vamos então começar do começo”. E foi até a estante buscar um livro de partituras do Moacir Santos.
Naquele verão, o que estava se apresentando pra mim nos nossos encontros eram maneiras de compor baseado na percussão. Por ter ascendência baiana dos dois lados da família, sempre fui bastante ligado com a cultura percussiva de lá. Por isso aqueles ritmos, os instrumentos, a maneira de tocar, não eram propriamente novos para mim.
Porém foi Letieres quem me abriu o olhar para as maneiras como aqueles ritmos, tanto os “de rua” quanto os dos terreiros de candomblé , poderiam servir como matéria prima para uma criação moderna, contemporânea, exuberante ritmicamente e intrinsecamente brasileira.
Que a “melodia” do rum (tambor mais grave do candomblé) pode virar uma linha de baixo. Que o timbre dos aguidavis estalando na pele do atabaque podia inspirar uma articulação do naipe de saxofones. Que a clave tocada pelo agogô podia guiar a divisão da melodia, e assim por diante.
Q4.
Na minha opinião, este álbum é muito contemporâneo e o ritmo de Black Music nos EUA das suas músicas contribui muito para essa impressão. No vídeo de Making , você mesmo ensinava os ritmos para a baterista.
Você mencionou os nomes dos Kendrick Lamar e D’Angelo como os músicos influenciou você.
Tem outros músicos que influenciou você bastante ? Como eles influenciou você ?
Como surgiu a ideia de misturar o ritmo de candomblé e Hip Hop ?
LR: Dentro do universo jazzístico, me sinto muito influenciado pelo Wayne Shorter. Seu disco “Alegria” é uma obra prima, e me influenciou muitíssimo. Também o disco “Livro” do Caetano Veloso foi fundamental pra mim. Tanto pela maneira brilhante como a percussão é arranjada, como pela escrita para sopros e cordas.
Já no contexto da black music, acompanho com interesse diversos produtores de pop/ hip hop americano: Hit-Boy, Deputy, Thundercat, Timbaland, Pharrell, etc..
No fim, todos esses elementos ficam gravitando no meu universo musical e acabam naturalmente se expressando na música que faço. Quer dizer, não foi exatamente uma “idéia” misturar ritmos do candomblé com hip-hop. Não foi um conceito premeditado. Creio que foi mais a busca por algum tipo de sonoridade ou por alguma levada específica que primeiro me fez ter a intuição de que poderia haver aderência entre certos toques de atabaque e certas varições de backbeat.
Curiosamente, enquanto falo com você, olho ao redor e vejo na sala da minha casa um atabaque, um sintetizador, uma pasta lotada de transcrições de Duke Ellington, um MPC… Enfim, é natural que esses interesses acabem aparecendo na música que escrevo.
Q5.
Como você compôs estas músicas no álbum? Com que instrumento você compôs ? Como você arranja, usando computador ou escrevendo as partituras na mão ?
LR: Eu uso o piano para compor, muito mais do que a guitarra, que é o meu instrumento principal. E eu toco piano mal, o que obviamente não é nenhum mérito, mas por outro lado me ajuda a realmente ir atrás das idéias que estão na minha imaginação, ao invés de ir pelos caminhos que os dedos estão acostumados a tocar.
Em geral acabo desenvolvendo a partir de algum fragmento musical que sinto que tem personalidade, é isto que busco num primeiro momento. E vou tentando desenvolver essa primeira idéia intuitivamente o máximo que posso, sem parar para analisar o que está acontecendo. Só quando aparece algum bloqueio nesse processo é que entra a técnica. Daí vou tentando entender analiticamente qual a lógica por trás daquela inspiração inicial para, a partir dessa compreensão, voltar ao fluxo intuitivo.
O desenvolvimento da composição acaba sendo uma alternância permanente desses dois estados. Um fluido, lúdico, e outro racional, atento. E nesse processo eu anoto muitos rascunhos à mão. Páginas e páginas de trechos melódicos, aberturas de vozes, idéias de forma, harmonias. Mas só passo para o computador para editar as partituras finais.
Q6.
O que quer dizer o título “O Corpo de Dentro” ?
A canção “O mais profundo é a pele” é relacionada com o título do álbum ?
E o que representa a capa do álbum ?
Tem uma canção “Ozu”. Este “Ozu” é diretor de cinema ?
LR: Sim, é uma alusão a Yasujiro Ozu, um artista que amo profundamente e que tem um nome que soa muito lindo, ao menos em português.
Sobre o título do disco, não sei de onde peguei esse nome, “O Corpo de Dentro”. Acho que foi algum amigo que falou essa frase uma vez. O fato é que me fascina toda essa engrenagem complexa por trás do nosso corpo aparente. A energia, as milhões de reações químicas, as transmissões sensitivas, o fluxo sanguínio, enfim, tudo isso que é o nosso avesso.
Tem a ver com essa idéia do “Avesso das Coisas”. Esse é o nome de um livro do poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade, um livro de aforismos, que é a forma literária análoga ao que eu queria fazer musicalmente com três fragmentos musicais que incluí no álbum. Acabei usando esse nome para a Abertura do disco.
Mas além disso, acho que esse nome explica também o sentido do “Corpo de Dentro”. É uma alusão ao avesso das coisas. Também me faz pensar no sopro dos instrumentistas de madeira e metais, no chamado “tempo interno” de um percussionista, enfim, desses lugares profundos de onde a música vem.
“O mais profundo é a pele” acaba tendo a ver com isso, sim. Na verdade essa é uma frase famosa do escritor francês Paul Valery, que eu acho muito cativante. Ce qu’il y a de plus profond en l’homme, c’est la peau. Há uma outra frase, do arquiteto americano Vito Acconci que acho que poderia vir junto com esse: “The body is the place where things happen.” Acho isso precioso.
Mas quis usar esse nome, por um lado, porque sentia que havia um erotismo nessa música cujo aspecto sensorial da pele achei que tinha a ver.
Mas também, levando em conta o nome do disco, também há a acepção de que, sob a perspetiva “de dentro”, a pele é de fato o mais profundo.
Q7.
O produtor do álbum é o Arto Lindsay. Como você conheceu ele ?
Poderia contar concretamente o que ele fez no álbum?
LR: Conheci Arto pessoalmente através de amigos que temos em comum, mas cresci ouvindo álbuns que ele produziu, especialmente “Circuladô” e “Alfagamabetizado”, que amo.
No caso do meu disco, ao contrário do que é mais comum no universo dos cantores, eu já estava com as composições já prontas, orquestradas e inclusive já escritas em partituras na hora de gravar. Por isso o trabalho do produtor realmente fica um pouco diferente. Mas mesmo quando a música já está no papel, existem inúmeras decisões a serem tomadas no estúdio. Escolher takes, dar certas indicações de interpretação aos músicos, optar por esse ou aquele microfone, ou até a estratégia logística de como organizar a gravação.
Isso eu e Arto estávamos sempre pensando juntos e em geral com bastante sintonia nas escolhas. Mas, fora isso, antes de efetivamente entrar em estúdio, nós conversamos muito sobre como seria a estética desse disco. Eu tinha vontade de gravar minhas composições “jazzísticas” de uma maneira um pouco menos hi-fi do que o usual. Pensava em manipular um pouco os sons, distorcer, misturar os sons orgânicos com eletrônicos. etc.. E fazer isso de uma maneira elegante, sutil, já que o mais importante, é claro, são as composições.
Achei que Arto entenderia bem essas idéias, e teria a experiência necessária para me ajudar a fazer isso tudo acontecer. E assim fizemos.
Q8.
Este entrevista é um dos artigos especiais sobre large-ensemble-latino-americano.
Além do Letieres Leite, você foi influenciado por algum músico ou alguma música de large-ensemble-latino-americano ?
LR: Sim, pela Orquestra Afro-Brasileira do maestro Abigail Moura. Este foi um grupo dos anos 50/60 que eu acho notável musicalmente e também visionário. Precursor da Rumpilezz no sentido de propor uma orquestra apenas de sopros e percussão.
Havia ali um projeto de criação de identidade do negro brasileiro e uma relação com uma África ancestral mítica que acabou por produzir uma música muito peculiar, com um certo tom misterioso, quase litúrgico. Me parece uma espécie de esforço utópico por uma espécie de música clássica afro-brasileira. É muito interessante.
A música SOMBRERO, última faixa de O Corpo de Dentro, é a trilha sonora deste vídeo institucional do PIVÔ – ambiente vital de criação, pesquisa e exposição de arte contemporânea em São Paulo.
Um prazer colaborar!
Repetindo Cildo Meireles ao fim do vídeo, longa vida ao Pivô !
O querido Naoya Miyakawa trouxe de Tóquio esse presente maravilhoso para mim: Revista Latina (JP), edição especial com a melhor música lançada em 2016.
Além disso, fez a gentileza de traduzir para o português as notas dos críticos japoneses, que colocaram “O Corpo de Dentro” em 2o lugar no ranking e, mais do que isso, escreveram comentários emocionantes sobre o disco. Abaixo copio alguns deles.
Obrigado Miyakawa-san!!
“excelente album. não vejo a hora de ver o próximo”.
“bahia + jazz. rich groove. agradável”.
“talento do futuro”.
“produzido por Arto Lindsay, fusão de jazz com percussão bahiana, álbum do compositor e guitarrista Lourenço Rebetez ficou no 2o lugar”.
“Lourenço Rebetez – 2o lugar no ranking 2016 Brasil Disk pelos críticos”.
“senti a diversidade e a novidade de São Paulo”.
“choque!!”
SHINE é o novo espetáculo da companhia de dança Perversos Polimorfos, com a qual tenho colaborado nos últimos anos.
Está em cartaz em São Paulo e convido a todos para assistir!
Shine é uma tentativa de entreter a partir da descrença na coerência e na ordem. São danças de destruição e renovação oriundas das reflexões acerca da trajetória da companhia e do contexto no qual está inserida. Sob quais parâmetros se pode continuar criando? Esse espetáculo é parte do Projeto Retrovisor contemplado pelo 19o Programa de Fomento à Dança da Cidade de São Paulo.
Temporada de 20/1 a 12/2
Quinta a Domingo, às 20h
Lotação 48 pessoas (reservas pelo email reservashine@gmail.com)
Entrada gratuita
Direção
Ricardo Gali
Assistência de Direção
Patrícia Bergantin
Intérpretes Criadores
Carolina Canteli, Danielli Mendes, Danilo Patzdorf, Gabriel Tolgyesi, Jerônimo Bittencourt e Josefa Pereira
Produção Administrativa
José Renato Fonseca – Cais Produções
Produção Executiva
Rafael Limongelli
Documentação Audiovisual
Fabio Furtado e Paulo Chicareli
Desenho de Luz
Aline Santini
Assistência de Iluminação
Maurício Shirakawa
Trilha Sonora
Lourenço Rebetez
Figurino
Ricardo Gali
Assessoria de Imprensa
Elaine Calux
Programação Visual
Fernando Bizarri
Interferências Colaborativas
Beatriz Sano, Rafaela Sahyoun e Tarina Quelho
Realização
Prefeitura Municipal de São Paulo / Secretaria de Cultura
Programa Municipal de Fomento à Dança da Cidade de São Paulo
Parcerias
Casa do Povo, Praça das Artes, Oficina Cultural Oswald de Andrade (Poiesis) e Universidade Anhembi Morumbi
Feliz de compartilhar mais uma lista em que “O Corpo de Dentro” figura entre os melhores de 2016!
Essa, do site Embrulhador é bastante abrangente e seleciona os melhores discos brasileiros do ano, sem restrição de estilo.
Nos orgulha estar em 15o lugar entre 100 melhores, mas, sobretudo, estar junto de tantos outros trabalhos fantásticos!
Clique na imagem para acessar o site:
Tivemos o enorme prazer de gravar o programa Instrumental Sesc Brasil na última semana. Melhor ainda foi ter o teatro Anchieta (Sesc Consolação) absolutamente lotado.
Novamente tivemos a presença dos mestres percussionistas Gabi Guedes, Iuri Passos e Ícaro Sá, diretamente de Salvador, Bahia.
Além disso, músicos fantásticos de São Paulo que concederam seu tempo, seu talento e seu espírito pra estarem com todo coração participando dessa comunhão que é estar junto num palco fazendo música pra um público tão sensível e atento.
São eles: Cássio Ferreira, Zafe Costa, Raphael Ferreira, Bruno Belasco, Sidmar Vieira, Jaziel Gomes, Leandro Cabral, Bruno Migotto e Vitor Cabral.
Aí está uma foto do nosso palco, enfeitado por plantas tropicais que são especialmente exuberantes nessa época do ano.
Dia 16 de Janeiro, às 19hs, teremos o enorme prazer de gravar o programa Instrumental Sesc Brasil, ao vivo no teatro Anchieta no Sesc Consolaçã0 – São Paulo
Mais detalhes em breve!
Sábdo dia 17/9 apresento o repertório do disco “O Corpo de Dentro” no FAM Festival, em São Paulo.
Vem!
Compartilhando aqui uma crítica especial que foi publicada no jornal O Globo no último sábado.
Fico feliz que o jornalista tenha dado uma opinião favorável ao disco, mas ainda mais que tenha compreendido tão bem o universo desse trabalho.
Segue o texto de Silvio Essinger, n’O Globo. 27 de agosto de 2016:
Lourenço Rebetez é um fantástico guitarrista, daqueles que juntam técnica, velocidade, timbre e bom gosto num só pacote. Mas isso é o que menos importa em “O corpo de dentro”.
No álbum de estreia do músico, o instrumento é apenas uma voz eventual entre outras várias — percussões, sopros, cordas — numa conversa de alto nível, na qual se desfazem as fronteiras entre composição e arranjo. E, mais do que tudo até, tem-se ali uma amostra de música viva, alegre, que se alimenta da surpresa, da interpretação de ideias realmente novas por um grupo destemido de músicos.
A influência de Moacir Santos e Letieres Leite, associada a um fino arcabouço jazzístico (e à produção livre, criativa de Arto Lindsay), dá as condições para que Lourenço avance léguas por passo. Seu afro-jazz brasileiro/internacional não tem correspondentes — ele está, em suas batidas quebradas e no uso nada ortodoxo das eletrônicas, mais próximo de um experimentalista do hip-hop como DJ Shadow ou Flying Lotus do que de qualquer outro músico de partitura.
A tradição, em “O corpo de dentro”, é uma ideia vaga. Os instrumentos estão muitas vezes deslocados de suas funções, melodias se cruzam e fazem desenhos extravagantes, mas cada tema é, em si, um organismo que nasce, cresce e se desenvolve.
No caldeirão, há faixas mais estruturadas harmonicamente, como “Pontieva”; outras mais free, como “Ozu”; e belezas puras como “Punjab” e “Sombrero”. Nenhuma delas melhor do que as outras — todas nascem da mesma felicidade no encontro com a música em estado puro.
Cotação: Ótimo
É com muita satisfação que convido para o show de lançamento do disco “O Corpo de Dentro”.
Será no palco do Itaú Cultural, na Avenida Paulista, 149. Dia vinte de agosto de 2016.
Terei o prazer de dividir o palco com músicos extraordinários:
Raphael Ferreira – sax soprano e flauta | Gustavo D’Amico – sax tenor e flauta | Zafe Costa – sax barítono, clarinete, clarone
Bruno Belasco e Maycon Mesquita – trompetes e flugelhorns | Jaziel Gomes – trombone
Leandro Cabral – piano | Bruno Migotto – baixo acústico | Vitor Cabral – bateria
Gabi Guedes, Iuri Passos e Ícaro Sá – percussões
É muito bom ler uma resenha feita com precisão e refinamento. Essa saiu na Revista Brasileiros desse mês.
Quem assina a matéria é o Marcos Grinspum Ferraz, que além de excelente jornalista é um querido amigo meu.
Que eu me lembre é a primeira vez que um amigo escreve sobre minha música.
Esse fato nos rendeu várias conversar sobre as eventuais problemáticas de se escrever sobre o trabalho de um amigo.
Na verdade, o Mumu me confessou que, quando soube que meu disco estava na pauta dessa edição da revista, torceu para não ficar responsável por essa matéria.
Quando ficou posto que seria mesmo ele o autor da resenha, naturalmente ele comunicou a seu editor que era muito amigo meu, num gesto de honestidade jornalística.
Mesmo assim eu sei, porque o conheco bem, da sinceridade com que escreveu cada linha da matéria. E fiquei feliz, é claro, por ele, afinal, ter gostado tão intensamente do disco.
“O Corpo de Dentro” foi destacado na capa da Ilustrada, caderno de cultura da Folha de São Paulo.
É bom ver o disco tendo uma repercussão positiva, especialmente quando pode-se estabelecer uma interlocução rica e sincera com a crítica. O jornalista Thales de Menezes escreveu com apuro sobre esse trabalho, o que me enche de satisfação.
Legal também o destaque a alguns dos grandes músicos que pavimentaram este caminho que eu procuro percorrer: Duke Ellington, Gil Evans, Moacir Santos, Maria Schneider.
Viva!
Mais uma vez terei a honra de me apresentar ao lado de músicos muito especiais pra mim: Luiz Brasil e Swami Jr.
O show será em São Paulo no dia 29/7 no novo Jazz nos Fundos (agora Centro Cultural da Música Instrumental).
Como sempre, será uma celebração da nossa amizade e do simples prazer de tocar junto. Será um prazer encontrar amigos por lá também!
Saiu uma matéria muito bem feita sobre “O Corpo de Dentro” no Jornal Zero Hora. Tive um papo ótimo com o jornalista Roger Lerina por telefone e fiquei contente de ler como ele sintetizou todo aquele assunto no texto. Não sei se foi ele quem deu o título da matéria, mas também achei muito bem colocado.
Aqui o link original da matéria.
Dia 11 de junho faço uma participação no show dos meus amigos queridos do Pitanga em Pé de Amora. Sempre fico contente em tocar com eles. Também participa o bandolinista Ronen Altman e os incríveis Fi Maróstica e Douglas Alonso. Vem!
Aqui compartilho um vídeo caseiro, na verdade um estudo de improvisação sobre a música “Triste”, de Tom Jobim.
Ultimamente tenho praticado usar o metrônomo em bpm’s bem lentos, em frações do tempo real da música. Assim ele não funciona como uma marcação do tempo, mas como um indicador de quão bom ou ruim meu tempo interno está.
Quem primeiro me falou sb essa prática foi o Gilad Hekselman. Também já vi o Bruno Tessele falar sobre isso e com certeza vários músicos fazem uso desse método.
Nesse vídeo deixei o metrônomo tocando só uma vez a cada dois compassos, enquanto improvisava sobre “Triste”, inspirado por idéias do genial Nelson Veras no seu disco “Solo Sessions”.
Tenho muito orgulho de tocar em trio com esses dois violonistas que foram influências enormes na minha formação musical (e ainda são!).
Esse show foi na Biblioteca Mario de Andrade (São Paulo) e o som foi, como sempre, uma delícia – é que fica fácil tocar com esses dois!
São Paulo Jazz Instrumental: Bem acompanhado ou não? Participei no show do Chico Pinheiro, tocando composições minhas e tendo ele como solista. Somamos ao quarteto dele (Edu Ribeiro, Bruno Migotto e Tiago Costa) 3 saxofones, 2 trompetes, 1 trombone e 1 percussionista. Tocamos juntos “Pontieva”, “Punjab” e “Ozu”, que depois gravei em “O Corpo de Dentro”.